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Levando a sério o que parece absurdo

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Muitos absurdos são ditos ou escritos, mas diante da obviedade de que se trata de um desatino, uma insensatez, somos levados a desconsiderá-los. Concordo que, em regra, deve ser assim, mas há casos em que certas ameaças que aparentam ser fruto da estultice podem se concretizar. Portanto, é preciso prestar atenção para aquilo que é bazófia e o que retrata (mesmo que pareça hipótese absurda) a vontade e o desejo de quem a professa. Quando, por exemplo, um candidato promete fazer, quando eleito, determinada barbaridade, é arriscado não levar a sério. E geralmente não se leva a sério, sob, no mínimo, dois argumentos: ele não é louco o suficiente para cumprir a promessa (não duvide da loucura ou mau-caratismo) ou, então, se ele tentar não irá conseguir (lembre-se que muitos não terão coragem de reagir).

Assim, no exemplo, o candidato, após eleito, faz exatamente o que disse que faria e aqueles que poderiam freá-lo terminam defenestrados ou covardemente se submetendo, sem falar naqueles outros que passam a crer nos absurdos como sendo o melhor. Portanto, redobrado cuidado.

Não é de hoje, vem de muito tempo, desde a década de 1990, como deputado, o atual presidente da República vem repetindo suas convicções em favor de regimes ditatoriais e práticas de repressão e extermínio de adversários. Fez isto, também, durante o período eleitoral e tem reiterado enquanto primeiro mandatário do país. Ora, é inegável que quem admira determinada situação ou coisa demonstra querer para si aquilo que admira. Não se pode deixar de considerar que, nos dias de hoje, a presidência aparenta ser exercida pelo núcleo familiar. Nasce daí a importância de atentar para o que dizem os integrantes do grupo familiar que se apresenta como o núcleo duro de poder. O que um da família diz ou faz, em princípio, retrata o que o grupo pensa. Por isto, preocupa a declaração do vereador do Rio de Janeiro de que o país não muda pela via democrática.

Isto, em bom português, significa que só uma ditadura poderia ser solução. Não importa os desditos, as explicações posteriores, o que foi dito é de uma clareza solar que ilumina e queima. Ainda convalescente o presidente referendou o dito por seu filho, dia 16 último, dizendo: "ele tem razão". Poderia ser uma estultice, uma declaração infeliz decorrente da incapacidade de se expressar claramente, mas o que foi dito guarda coerência com outros ditos, com atitudes pontuais e repetidas que mostram a vocação autoritária. E encontra eco na palavra de seu pai.

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